Um triunfo de Mozart

Carta de Wolfgang Amadeus Mozart ao seu pai Leopold. Paris, 1778 d.C.

 

[A minha nova Sinfonia] foi executada para o aplauso geral [na abertura do Concert Spirituel] no Corpus Christi; e o “Courrier de l’Europe”, segundo me disseram, publicou uma notícia sobre isso, o que faz dela um sucesso excepcional. Eu estava chateadíssimo nos ensaios, pois em todos os meus dias jamais ouvira uma performance tão miserável; você não pode imaginar como por duas vezes eles tropeçaram na Sinfonia sem parar, arranhando-a todo tempo. – Eu estava realmente chateado. – Se dependesse de mim, teria ensaiado mais uma vez, mas como eles sempre ensaiam um monte de coisas, não houve tempo para isso; e assim eu fui para a cama com um coração pesado e num estado mental irritado e insatisfeito. No dia seguinte resolvi não aparecer no Concerto; mas como o tempo melhorou durante a tarde, acabei decidindo ir – determinado, no entanto, que se as coisas fossem tão mal quanto foram não ensaio, eu certamente iria subir no palco, arrancar o violino de Monsieur La Houssaye (o regente da orquestra) e conduzi-la eu mesmo.

Eu rezei a Deus para que tudo corresse bem – sendo tudo para a sua maior honra e glória – e, louvado seja, eis que a Sinfonia começou. Raaff estava ao meu lado. Precisamente no meio do primeiro Allegro havia uma passagem que eu tinha certeza que agradaria. Todos os ouvintes entraram em êxtase nela – e aplaudiram calorosamente. Mas como, no momento em que a escrevi, eu estava perfeitamente consciente de seu efeito, eu a introduzi mais uma vez no fim – e ela recebeu muitos aplausos de novo. O Andante também agradou a todos, mas o último Allegro ainda mais. Tinham me dito que os Allegros finais, aqui, devem começar do mesmo modo que os iniciais, com todos os instrumentos tocando juntos, na maior parte do tempo em uníssono. Eu comecei o meu com nada mais que os primeiros e os segundos violinos tocando suavemente para 8 compassos – então há um súbito forte – e tão logo ouviram o forte eles bateram palmas. Eu estava tão contente, que, no minuto em que a Sinfonia terminou, eu fui ao Palais Royal, pedi um bom sorvete, rezei meu rosário, como havia prometido fazer, e fui para casa.