Os Feitos do Divino Augusto

Inscrição funerária do Imperador César o Augusto, Filho do Divino, nascido Gaius Octavius e adotado postumamente por Júlio César, redigida de próprio punho no ano de sua morte após mais de 40 anos como comandante supremo de Roma, e replicada por todo o império e além sob o título Res Gestae Divi Augusti. Roma, 14 d.C. 

 

 

I. Aos dezenove anos de idade, de minha própria iniciativa e às minhas custas, eu ergui um exército com o qual eu libertei a República, que era oprimida pela dominação de uma facção. Por esta razão, o Senado me inscreveu em sua ordem através de resoluções laudatórias, quando Gaius Pansa e Aulus Hirtius eram cônsules, conferindo-me a condição de um cônsul nas consultas públicas, e me concedeu o imperium. Comigo como pró-pretor, me ordenou, junto com os cônsules, que cuidasse para que nenhum dano se abatesse sobre a República. Mas o povo me fez cônsul no mesmo ano, quando ambos os cônsules pereceram em combate, e me fez triúnviro para a reconstituição da República.

II. Eu impus aos homens que assassinaram meu pai o exílio com uma ordem legal, punindo seu crime, e depois, quando eles moveram guerra contra a República, eu os venci em dois combates.

III. Eu promovi guerras frequentemente, civis e estrangeiras, por mar e por terra, por todo o mundo, e como vitorioso eu poupei os cidadãos que buscaram perdão. Quanto às nações estrangeiras, àquelas que eu pude sem prejuízo da segurança perdoar, eu preferi preservar antes do que destruir. Cerca de 500 mil cidadãos romanos prestaram juramento a mim. Eu conduzi mais de 300 mil deles a colônias e eu os devolvi às suas cidades, após terem ganhando o seu estipêndio, e eu concedi a todos eles campos ou dinheiro por seu serviço militar. Eu capturei 600 navios além daqueles menores que tri-remos.

IV. Duas vezes realizei um triunfo com ovações, e três vezes gozei de um triunfo curul e vinte e uma vezes fui nomeado imperador. Quando o Senado decretou mais triunfos para mim, eu declinei todos eles. Eu depus os lauréis dos fasces no Capitólio, quando os votos que eu pronunciei em cada guerra foram cumpridos. Em memória dos feitos realizados com sucesso por mim e através de meus oficiais, sob meus auspícios, por mar e por terra, o Senado decretou cinquenta e cinco vezes que se realizassem sacrifícios aos deuses imortais. Além disso houve 890 dias nos quais o Senado decretou que se rendessem sacrifícios. Em meus triunfos nove reis e filhos de reis [conquistados] foram levados ante meu carro. Eu fui cônsul treze vezes, quando escrevi isso, e eu estava no trigésimo sétimo ano de meu poder tribunício.

V. Quando a ditadura me foi oferecida, tanto em minha presença quanto em minha ausência, pelo povo e pelo Senado, quando Marcus Marcellus e Lucius Arruntius eram cônsules, eu não a aceitei. Eu não me esquivei da curadoria dos grãos no pico da carestia, que geri de tal forma que dentro de poucos dias consegui libertar toda a cidade do medo e do perigo às minhas próprias custas e administração. Quando o consulado anual e perpétuo foi mais uma vez oferecido a mim, eu não o aceitei.

VI. Quando Marcus Vinicius e Quintus Lucretius foram cônsules, e quando depois Publius Lentulus e Gnaeus Lentulus assumiram, e finalmente quando Paullus Fabius Maximus e Quintus Tubero assumiram, embora o Senado e o povo romano tenham consentido que eu sozinho fosse designado curador das leis e dos costumes com o poder supremo, eu não recebi nenhuma magistratura que me foi oferecida contrária aos costumes dos ancestrais. O que o Senado então quis realizar por meio de minha pessoa, eu o realizei através do poder tribunício, e cinco vezes por minha própria conta eu requisitei e recebi do Senado um colega em tal poder.

VII. Eu fui triúnviro para a reconstituição da República durante dez anos consecutivos; e até o momento em que redigi esses feitos, Príncipe do Senado por quarenta anos consecutivos. Fui Pontífice Máximo, augur, membro do Colégio dos Quinze encarregados das sagradas cerimônias, do Colégio dos Sete encarregados dos sacros banquetes, irmão da Confraria Arval, sodal Titio e sacerdote fecial.

VIII. Por mandato do povo e do Senado, durante meu quinto consulado aumentei o número dos patrícios romanos. Por três vezes estabeleci a lista de senadores e no meu sexto consulado levei a cabo com Marco Agripa como colega o censo do povo. Celebrei a cerimônia lustral quando já não era celebrada há quarenta e dois anos; nela foram registrados 4.063.000 cidadãos romanos. Durante o consulado de Gaius Censorinus e Gaius Asinius levei a cabo o censo por minha conta, em virtude de meu poder consular, em cuja lustração se contaram 4.233.000 cidadãos romanos. Fiz o censo por uma terceira vez, em virtude de meu poder consular e tento por meu colega meu filho [adotivo], Tibério César, no consulado de Sextus Pompeius e Sextus Apuleius; por ocasião deste censo contei 4.937.000 cidadãos romanos. Mediante novas leis que propus tirei do desuso muitos exemplos de nossos antepassados, já decaídos em Roma, e eu mesmo leguei à posteridade muitas ações como exemplos a imitar.

IX. O Senado decretou que, a cada quatro anos, os cônsules e sacerdotes oferecessem votos por minha saúde. Para cumpri-los tanto os quatro colégios sacerdotais maiores quanto os cônsules ofereceram frequentemente, em minha vida, jogos públicos. Também, em suas casas e em suas cidades, todos os cidadãos, sem exceção e unanimemente, realizaram todo tempo cerimônias por minha saúde em todo tipo de lugares sacros.

X. O Senado fez com que incluíssem meu nome no cântico dos Sacerdotes Salios e uma lei determinou que possuiria, perpetuamente e por toda vida, caráter inviolável para minha pessoa e potestade dos tribunos da plebe. Quando o povo me ofereceu o Pontificado Máximo, que meu pai havia exercido, o recusei, para não ser eleito em lugar do Pontífice que ainda vivia. Não aceitei este sacerdócio senão anos depois, após a morte daquele que o ocupava por ocasião dos conflitos civis; e contei com uma imensa participação da multidão de toda Itália aos comícios que me elegeram, durante o consulado de Publius Sulpicius e Gaius Valgius, tal como jamais se havia visto semelhante em Roma.

XI. Em homenagem ao meu regresso e sob o consulado de Quintus Lucrecius e Marcus Vinicius, o Senado consagrou, próximo à Porta Capena, ante o Templo da Honra e da Virtude, um altar à Fortuna do Retorno. Ordenou que todos os anos Pontífices e Vestais fizessem ali uma oferenda, no aniversário de meu regresso da Síria, e chamou a este dia “das Augustais”, conforme meu nome.

XII. No mesmo ano, em virtude de um ato do Senado, parte dos pretores e dos tribunos da plebe, acompanhados pelo cônsul Quintus Lucrecius e pelos cidadãos mais eminentes, vieram ao meu encontro em Campânia: honra que a ninguém havia sido conferida antes. Quando regressei da Hispânia e da Gália, durante o consulado de Tibério Nero e Publius Quintilius, depois de ter levado a cabo com todo êxito o necessário nessas províncias, o Senado, para honrar minha volta, fez com que consagrassem, no Campo de Marte, um altar dedicado a Paz Augusta, e encarregou os magistrados, pretores e virgens vestais de levarem a cabo nele um sacrifício a cada aniversário.

XIII. O templo de Janus Quirinus, que nossos ancestrais desejavam que permanecesse clausurado quando em todos os domínios do povo romano se tivesse estabelecido vitoriosamente a paz, tanto em terra quanto em mar, não havia sido fechado salvo em duas ocasiões desde a fundação da Cidade até meu nascimento; durante meu Principado, o Senado determinou, em três ocasiões, que fosse fechado.

XIV. O Senado e o povo romano, querendo me honrar, designaram cônsules, quando tinham quinze anos, com a intenção de que assumissem a magistratura cinco anos mais tarde, meus filhos [adotivos] Gaius e Lucius Césares, os quais, muito jovens, a Fortuna me arrebatou. E o Senado decretou que eles participariam de suas deliberações desde o primeiro dia em que fossem apresentados no Fórum. Os Cavaleiros de Roma, por sua vez, imediatamente os denominaram Príncipes de Juventude e lhes obsequiaram os escudos equestres e as lanças de prata.

XV. Paguei à plebe de Roma 300 sestércios por cabeça, em cumprimento ao testamento de meu Pai. E em meu próprio nome, durante meu quinto consulado, dei outros 400 [por cabeça], de meu butim de guerra. Em meu décimo consulado distribuí, de novo, de meu próprio patrimônio uma gratificação à plebe de 400 sestércios por indivíduo. No décimo primeiro, por doze vezes reparti trigo adquirido às minhas custas. Quando cumpri minha décima segunda potestade tribunícia, pela terceira vez voltei a repartir 400 sestércios a cada plebeu. Nunca foram menos de 250 mil as pessoas beneficiadas por estas partilhas. No ano de minha décima oitava potestade tribunícia e de meu décimo segundo consulado dei 60 denários de prata por cabeça a 320 mil plebeus da Cidade. Durante meu quinto consulado distribuí mil moedas, procedentes de meu butim de guerra, a cada um dos soldados de minhas cidades coloniais militares: tal obséquio comemorativo de meu triunfo oficial afetou cerca de 120 mil homens. Durante meu décimo terceiro consulado dei 60 denários a cada cidadão plebeu dos que estavam inscritos nas listas de beneficiários das distribuições gratuitas de grãos, que foram algo mais de 200 mil.

XVI. Para a compra de terras que havia designado a meus veteranos, em meu quarto consulado e, depois, durante o de Marcus Crasus e Gnaeus Lentulus Augur, destinei uma subvenção às municipalidades, cuja monta chegou, na Itália, a 600 milhões de sestércios, mais ou menos, e a uns 260 nas províncias. Que se registre, sou o primeiro e único que fez tal coisa entre aqueles que fundaram cidades coloniais militares na Itália ou nas províncias. Mais tarde, sob os consulados de Tibério Nero e de Gnaeus Pison, de Gaius Antistius e Decius Laelius, de Gaius Calvisius e Lucius Passienus, de Lucius Lentulus e Marcus Messalla e de Lucius Caninius e Quintus Fabricius, concedi recompensas em moeda aos soldados que haviam se licenciado honradamente e retornado a seus lugares natais, negócio no qual reverti uns 400 milhões de sestércios.

XVII. Por quatro vezes acudi, com meu dinheiro, em ajuda ao Tesouro Público, de modo tal que entreguei a seus responsáveis 50 milhões de sestércios. Sob o consulado de Marcus Lepidus e Lucius Arruncius, dei de meu patrimônio 70 milhões de sestércios ao Tesouro militar, o qual decidi criar, com o fim de conceder recompensas aos soldados com vinte ou mais anos de serviços.

XVIII. No ano em que foram cônsules Gnaeus e Publius Lentulus, em razão da insuficiência das provisões públicas compartilhei socorros em espécie a 100 mil pessoas e em moedas a mais de 100 mil, tomando-os de meus bens e estoques.

XIX. Construí a Cúria e seu vestíbulo anexo, o templo de Apolo no Palatino e seus pórticos, o templo do Divino Júlio, o Lupercal, o Pórtico junto ao Circo Flaminio — ao qual dei o nome de Octavia, que havia construído anteriormente outro no mesmo lugar —, o palco imperial do Circo Máximo; os templos de Júpiter Feretrio e de Júpiter Tonante, no Capitólio; o de Quirino, os de Minerva, Juno Rainha e Júpiter Libertador, no Aventino; o templo aos Lares no cimo da Via Sagradas, e dos Deuses Penates na Velia e os da Juventude e a Grande Mãe, no Palatino.

XX. Restaurei com extraordinário gasto o Capitólio e o Teatro de Pompeu, sem acrescentar nenhuma inscrição que levasse meu nome. Reparei os aquedutos que, por sua vez, se encontravam arruinados em muitos lugares. Dupliquei a capacidade do aqueduto Márcio, aduzindo-lhe uma nova fonte. Conclui o Foro Júlio e a Basílica situada entre os templos de Cástor e de Saturno, ambas as obras iniciadas e levadas quase a termino por meu Pai. Destruída a Basílica por um incêndio, acrescentei seu solar e fiz com que se empreendesse sua reconstrução em nome de meus filhos [adotivos], prescrevendo a meus herdeiros que a concluíssem no caso de não poder fazê-lo eu mesmo. No meu quinto consulado, sob a autoridade do Senado, restaurei em Roma oitenta e dois templos, sem deixar no descuido a nenhum que na ocasião o necessitava. Durante o sétimo, refiz a Via Flamínia, entre Roma e Armínio, e todas as pontes, salvo a Mílvia e a Minúcia.

XXI. Nos solares de minha propriedade construi, com dinheiro de meu butim de guerra, o templo de Marte Vingador e o Foro de Augusto. Edifiquei o Teatro que está próximo ao templo de Apolo, em um terreno que, em grande parte, comprei de particulares, e lhe dei o nome de meu genro, Marcus Marcellus. No Capitólio consagrei oferendas procedentes de meu butim de guerra aos templos do Divino Júlio, de Apolo, de Vesta e de Marte Vingador, que me custaram uns 100 milhões de sestércios. No meu quinto consulado devolvi aos municípios e colônias da Itália 35 mil libras de ouro coronário do que me havia sido oferecido por meus triunfos oficiais. E, depois, cada vez que tive de receber uma aclamação oficial como imperador, não quis aceitar estas oferendas de ouro coronário que seguiam me oferecendo com a mesma generosidade de outrora mediante acordos oficiais dos municípios e das colônias.

XXII. Ofereci combates de gladiadores três vezes em meu próprio nome e cinco em nome de meus filhos ou netos. Nestes combates lutaram uns dez mil homens. Ofereci ao povo um espetáculo de atletas, trazidos de todas as partes, duas vezes em meu nome e uma terceira no de meu neto. Celebrei jogos, em meu nome, por quatro vezes e outras vinte e três em nome dos outros magistrados. Durante o consulado de Gaius Furnius e Gaius Silanus celebrei os Jogos Seculares, com Marco Agripa como colega, na minha condição de presidente do Colégio dos Quinze. No meu décimo terceiro consulado celebrei, e fui o primeiro que fiz tal coisa, os jogos de Marte os quais, a partir de então, seguiram sendo presididos por mim e pelos cônsules, em virtude de um ato do Senado e de uma lei. Em meu nome ou em nome de meus filhos e netos, ofereci, por vinte e seis vezes, no Circo, no Foro ou nos anfiteatros, caçadas de animais da África, nas quais foram mortas umas três mil e quinhentas feras.

XXIII. Ofereci ao povo o espetáculo de uma batalha naval, do outro lado do Tibre, onde hoje está o Bosque Sagrado dos Césares, em um tanque escavado de 1.800 pés de largura e 1.200 de comprimento. Tomaram parte nela 30 naves, tri-remes e bi-remes, guarnecidas com aríetes, e um número ainda maior de barcos menores. A bordo destas frotas combateram, sem contar os remadores, uns 3 mil homens.

XXIV. Depois de cada vitória, devolvi a todos os templos de todas as cidades da província da Ásia os tesouros dos quais se haviam apropriado aqueles que guerrearam contra mim. Na Cidade, o número de minhas estátuas, a pé, a cavalo ou em quadriga chegou a ser de umas oitenta. Eu mesmo mandei retirá-las e com seu material fiz oferendas de ouro que consagrei no templo de Apolo, em meu nome e no daqueles que as haviam erigido para me honrar.

XXV. Libertei o mar dos piratas. Na guerra dos escravos capturei quase 30 mil que haviam escapado de seus donos e se insurgido em armas contra a República; os devolvi a seus amos, para que lhes dessem suplício. A Itália inteira me jurou, por iniciativa própria, lealdade pessoal e me reclamou como comandante para a guerra que conclui em Accio. Igual juramento me prestaram as províncias das Gálias, as Hispânias, África, Sicília e Sardenha. Entre os que então serviram sob minhas insígnias, tive mais de 700 senadores, dos quais 83 tinham sido ou logo seriam cônsules, até o dia de hoje, e dos quais 170 eram ou foram mais tarde sacerdotes.

XXVI. Estendi as fronteiras de todas as províncias do povo romano limítrofes aos povos não submetidos ao nosso domínio. Pacifiquei as Gálias, as Hispânias e a Germânia, até onde o Oceano as banha, desde Cadiz até a desembocadura do Elba. Mandei pacificar os Alpes, desde a região imediata ao Mar Adriático até o Mar Tirreno, sem mover contra nenhum daqueles povos guerra que não fosse justa. Minha frota, que zarpou da desembocadura do Reno, se dirigiu ao leste, às fronteiras dos címbrios, terras nas quais nenhum romano havia ido antes, nem por terra nem por mar. Címbrios, cárides, semnones e outros povos germânicos destas terras enviaram embaixadores para solicitar a minha amizade e a do povo romano. Por ordem minha e sob meus auspícios dois exércitos chegaram, quase ao mesmo tempo, na Etiópia e na Arábia chamada Feliz. Nestes países e no combate aberto destruíram um grande número de inimigos e tomaram numerosas praças. Na Etiópia chegou-se até a cidade de Nabata, próximo a Meroe. Na Arábia, o exército chegou até a cidade de Mariba dos sabeos.

XXVII. Anexei o Egito aos domínios do povo romano. Depois da morte do rei Artaxes teria podido converter em província a Grande Armênia; mas preferi, como nossos maiores, confiar este reino a Tigranes, filho do rei Artavasdo e neto do rei Tigranes, por mediação de Tibério Nero, que então era meu enteado. Tendo logo querido esse povo nos abandonar e se rebelar, o submeti por meio de meu filho Gaius e confiei seu governo a Ariobarzanes, filho de Artabazo, rei dos povos medos; e, após a sua morte, a seu filho Artavasdo. Quando este foi assassinado, enviei como rei Tigranes, que era da linhagem real dos armênios. Recuperei a totalidade das províncias que, do outro lado do Adriático, se estendem até o leste, assim como Cirene, que estava em sua maior parte possuída por reis, tal como antes recuperei a Sicília e a Sardenha, invadidas na guerra dos escravos.

XXVIII. Fundei cidades militares coloniais na África, Sicília, Macedônia, em ambas as Hispânias, em Acaia, na Síria, na Gália Narbonense e na Pissídia. Na Itália há vinte e oito colônias fundadas sob meus auspícios e que, já em minha vida, converteram-se em cidades populosíssimas e muito notórias.

XXIX. Recuperei muitas insígnias militares romanas, perdidas por outros chefes, de inimigos vencidos na Hispânia, na Gália e entre os dálmatas. Obriguei aos povos partos a restituir os butins e as insígnias de três exércitos romanos e a suplicar a amizade do povo romano. Depositei tais insígnias no templo de Marte Vingador.

XXX. Os povos panônios que, antes de meu Principado, não haviam visto em sua terra nenhum exército romano, foram vencidos mediante a ação de Tibério Nero, meu enteado e legado à época; os submeti ao domínio do povo romano e ampliei até as margens do rio Danúbio as fronteiras do Ilírico. Sob meus auspícios foi vencido e destruído o exército dos dácios, que as havia transgredido. E, depois, um dos meus exércitos, levado ao outro lado do Danúbio, obrigou os povos dácios a acatar a vontade do povo romano.

XXXI. Chegaram a mim com frequência embaixadas de reis da Índia, que até então então não tinham sido vistos sob nenhum outro chefe romano. Bastarnos, escitas, os sármatas que vivem do outro lado do Dniéster e os ainda mais distantes reis dos albanos, iberos e medos que solicitaram nossa amizade por meio de legações.

XXXII. Em mim buscaram refúgio e me suplicaram os reis dos partos: Tirídates e, mais tarde, Fraates, filho do rei Fraates; dos medos, Artavasdes; dos adiabenos, Artaxares; dos britanos, Dumnobelauno e Tincômio; dos sicambros, Maelo; dos suevos marcomanos, [Sigime]ro. O rei dos partos, Fraates, filho de Orodes, enviou à Itália seus filhos e netos, junto a mim; não por ter sido vencido na guerra, mas para suplicar nossa amizade entregando-nos, como prenda, seus descendentes. Um grandíssimo número de outros povos que antes nunca havia tido relações diplomáticas nem tratados de amizade com o povo romano conheceu sob meu Principado a probidade do povo romano.

XXXIII. Os povos dos partos e dos medos receberam de mim seus reis, coisa que haviam solicitado enviando-me legações com suas personalidades mais relevantes; os partos receberam como reis, na primeira vez, Vonon, filho do rei Fraates e neto do rei Orodes; e os medos Ariobarzanes, filho do rei Artavasdo, neto do rei Ariobarzanes.

XXXIV. Durante meus sexto e sétimo consulados, depois de ter extinto, com os poderes absolutos que o consenso geral me confiara, a guerra civil, decidi que o governo da República passaria do meu arbítrio ao do Senado e do povo romano. Por tal ação meritória, recebi o nome de Augusto, mediante um ato do senado. As colunas de minha casa foram ornadas oficialmente com lauréis; foi colocada sobre sua porta uma cora cívica e na Cúria Júlia foi depositado um escudo de ouro, com uma inscrição memorial de que o Senado e o povo romano o ofereciam a mim por causa de minha virtude, minha clemência, minha justiça e minha piedade. Desde então fui superior a todos em autoridade, porém não tive mais poderes do que qualquer outro dos que foram meus colegas nas magistraturas.

XXXV. Quando exercia meu décimo terceiro consulado, o Senado, a Ordem dos Cavaleiros Romanos e o povo romano inteiro me designaram Pai da Pátria e decidiram que o título haveria de ser gravado no vestíbulo de minha casa, na Cúria e nas quadrigas do Foro Augusto que, por ocasião de um ato do Senado, haviam sido erigidas em minha honra. Quando escrevi estas coisas estava no septuagésimo sexto ano de minha vida.