Talmud, Israel e Babilônia. Séculos III a VI d.C.
O gentio que estuda a lei divina (Torá) é igual ao sumo sacerdote.
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Um filho ilegítimo, se é douto, é mais estimável do que um sumo sacerdote ignorante.
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Um homem não deve dizer: “Meter-me-ei a estudar a lei para que me chamem sábio; estudarei a Mishnah para fazer com que me chamem rabino e para que me ponha à frente de uma escola.” Não consideres o saber como uma coroa com a qual te embelezarás, nem como um machado para te procurar víveres.
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O escopo da sapiência são as boas obras e a correção da vida; mas para aqueles que não fazem o bem por amor ao bem, melhor seria se não tivessem sido criados.
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Uma outra máxima diz: que o homem se ocupe da Torá e das boas obras, mesmo se não o faz por amor, porque com o tempo chegará a fazer com amor.
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Tudo é preestabelecido pelo Eterno e mesmo assim as ações dos homens são livres. O mundo é governado pela bondade, e a vontade do homem se reconhece pela riqueza das boas obras.
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Ninguém pode se ferir, nem no mindinho se não for estabelecido por Deus.
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O além não é como aqui. Lá não se come e não se bebe, e ninguém se entrega a nenhum prazer sensível; lá não existe a inveja, nem o ódio, nem a discórdia, mas os justos com as coroas sobre a cabeça gozam na luz de Deus.
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Quem cumpre ao menos um dever ganha um defensor, e quem comete ao menos um pecado ganha um acusador.
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Cumpre a vontade de Deus como se fosse a tua, de modo que Ele faça da tua vontade a Dele. Sacrifica a tua vontade à Dele, de modo que ele sacrifique a vontade dos outros à tua.
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Quem tem o pão na cesta e se preocupa com o alimento para o dia seguinte, pertence aos homens de pouca fé.
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O homem deve agradecer a Deus pelo mal tanto quanto pelo bem.
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O homem diante de Deus deve falar somente com poucas palavras.
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Quem na sua oração pode interceder pelo próximo mas não o faz é chamado pecador.
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Quem é sábio? Quem aprende tudo. Quem é um herói? Quem vence as próprias paixões. Quem é rico? Quem se contenta com seus bens. Quem é estimável? Quem estima o seu próximo.
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A paixão perversa se assemelha no princípio a um peregrino, depois a um hóspede, depois a um patrão.
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Ao homem presunçoso Deus diz: nós dois não podemos conviver no mundo.
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Quem humilha a si mesmo será exaltado por Deus, mas quem se exalta sozinho, Deus o humilhará. Se alguém aspira ao domínio, este lhe fugirá, se ao invés disso se esquiva, virá a ele sem que ele queira.
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Quem ousa simplesmente erguer a mão contra um homem, mesmo se não o golpeia, é chamado ímpio.
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Quem desonra publicamente alguém é como se tivesse derramado o seu sangue.
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É melhor para um homem estar entre os perseguidos do que entre os perseguidores.
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Uma outra máxima diz: de quem é ofendido e não restitui a ofensa, de quem recebe um ultraje e não o responde, de quem suporta com amor e sofre com alegria, é dito: “os prediletos de Deus serão como o sol que surge na sua magnificência.”
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A quem perdoa a ofensa que lhe foi lançada, Deus perdoará o seu pecado.
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Sê tenro e maleável como um junco, e não duro e orgulhoso com um cedro.
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O teu sim seja um verdadeiro sim, e o teu não um verdadeiro não.
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Não deves enganar nem mesmo um gentio.
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Os hipócritas não verão Deus.
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Deves ser cordial com todos.
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A virtude da beneficência pela sua importância, é parelha a todas as outras virtudes tomadas em conjunto.
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A benevolência é superior até às obras de caridade.
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Quem negligencia o dever de fazer beneficência aos pobres, será julgado como o idólatra
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Até quando havia o [Grande] Templo, o altar resgatava os pecados dos homens. Agora, ao contrário, que não há mais altar, a refeição oferecida aos pobres substitui o altar e resgata os pecados.
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Quem perde a mulher deve ser condoído como se nos seus dias tivesse sido destruído o Templo.
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Se alguém te disser: busquei e não encontrei, não creias; e se disser: encontrei e não buscava, não creias ainda; mas se disser: busquei e encontrei, crê.
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Para quem é capaz de calcular o curso dos astros e não o faz, se disse: “Não contemplam as criaturas de Deus e não veem a obra de Suas mãos.”
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Um grão de pimenta, hoje, vale mais do que um cesto cheio de abóboras amanhã.
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Aquele que destrói uma alma de Israel, a Escritura conta-o como se tivesse destruído o mundo inteiro. Mas aquele que preservar uma só alma de Israel, a Escritura o contará como se tivesse preservado o mundo inteiro.
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Eu antes queria ser chamado tolo toda a vida do que pecar uma hora diante de Deus.
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Existem três espécies de homens cuja vida não é vida; Aquele que come à mesa de outro; aquele cuja mulher o domina; e aquele que sofre corporalmente. E há quem também diga, que aquele que tem apenas uma camisa na gaveta.
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Um discípulo dos sábios que faz pouco do lavar das mãos é desprezível: mas mais desprezível é aquele que começa a comer antes do hóspede; mais desprezível é o hóspede que convida outro hospede; e ainda mais desprezível é aquele que começa a comer antes dum discípulo dos sábios; mas mais desprezível do que todos é aquele hospede que incomoda outro hóspede.
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Ha quatro gêneros de homens, conforme a proporção dos seus temperamentos: aquele que é facilmente irritado, e igualmente apaziguado, e que perde mais do que ganha; aquele que é dificilmente excitado mas igualmente difícil de acalmar, e que ganha mais do que perde; aquele que não é facilmente excitado, mas sim acalmado, que é um homem piedoso; aquele que é fácil provocar, e difícil aplacar, e que é um malvado.
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Estes cinco deveriam ser mortos mesmo ao sábado: a mosca do Egito, a vespa de Nínive, o escorpião de Hadabia, a serpente da terra de Israel, e o cão danado em toda e qualquer parte.
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Há seis coisas que são uma vergonha para os discípulos dos sábios: andar perfumado, andar só de noite, usar sapatos velhos remendados, falar com uma mulher na rua, sentar-se à mesa com homens ignorantes, e chegar tarde à sinagoga. Alguns acrescentam a isto andar com ar altivo e orgulhoso.
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Ha seis coisas que dão juros neste mundo, ficando o capital para o outro que há de vir. Hospitalidade a estranhos; visitar os doentes; a meditação na oração; frequentar cedo a escola de instrução; instruir os filhos no estudo da Lei, e julgar caritativamente os nossos próximos.
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Aquele que passa sete noites seguidas sem sonhar merece ser chamado mau.
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A hiena macho depois de sete anos torna-se um morcego, este depois de sete anos um vampiro, este depois de sete anos uma ortiga, esta sete anos depois um espinho, e este finalmente depois dos sete anos torna-se um demônio. Se um homem não se curva reverentemente quando repete a oração quotidiana que principia: “Reconhecemos reverentemente”, o espinho torna-se-lhe depois de sete anos uma serpente.
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O primeiro passo na transgressão é o mau pensamento, o segundo o escarnecer, o terceiro o orgulho, o quarto o ultraje, o quinto a preguiça, o sexto o ódio, e o sétimo o mau olhar.
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Sete coisas distinguem um homem malcriado, e sete um homem prudente. O homem prudente (1) não fala diante do seu superior em sabedoria e anos; (2) não interrompe ninguém que esteja falando; (3) não se apressa a responder; (4) as suas perguntas não têm rodeios, e as respostas são em conformidade com o Halacah; (5) os assuntos dos seus discursos são arranjados com método, o primeiro assunto primeiro, e o último no final; (6) se não tiver ainda ouvido dum assunto, diz: não ouvi falar disso; e (7) confessa a verdade. As característicos dum homem malcriado são totalmente opostas a estas.
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A mulher prefere uma medida de frivolidade, a nove medidas de santidade Farisaica.
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Existem dez coisas prejudiciais ao estudo: passar debaixo do cabresto dum camelo, ou ainda mais, debaixo do seu corpo; andar entre dois camelos ou entre duas mulheres; ser um de dois homens entre os quais passe uma mulher; estar onde a atmosfera está viciada por um cadáver; passar debaixo duma ponte, sob a qual nenhuma água tem corrido há mais de quarenta dias; comer com uma concha que tem servido a serviços culinários; beber água que corre por um cemitério. Também é perigoso olhar para o rosto de um cadáver, e há quem também diga, ler as inscrições dos túmulos.
Da série Biblioteca Internacional, V. 5, e outras fontes.