Segunda Cena do Terceiro Ato da Tragédia de Júlio César, de William Shakespeare. Londres, 1599 d.C.
Tradução de José Francisco Botelho para a Companhia das Letras.
oferecimento
Nos Idos de Março o líder do partido dos populares, Gaius Julius César – nomeado tribuno e ditador vitalício da República após pôr fim à Guerra Civil, autointitulado “Prefeito dos Costumes”, e conclamado “Pai da Pátria” e Imperador pelo Senado e pelo Povo de Roma (Senatus Populusque Romanus) -, é assassinado por 60 colegas com 23 facadas numa sessão da Casa no Capitólio, o templo da diviníssima trindade: Júpiter, Juno e Minerva.
Após entregar o cadáver ao imediato de César, o general Marco Antônio, os líderes da conspirata, Bruto e Cássio, vão ao Fórum.
Entra Bruto e depois vai ao púlpito, e também
entram Cássio e os Plebeus.
PLEBEUS
Queremos explicação! Exigimos explicação!
BRUTO
Então, venham comigo e me ouçam, meus irmãos.
Tu, Cássio, vai agora àquela outra rua
E divide os ouvintes em dois grupos.
Quem deseja me ouvir, permaneça comigo;
Quem quiser ouvir Cássio, vá com ele agora.
E públicas razões serão apresentadas
Para a morte de César.
PRIMEIRO PLEBEU
Vou escutar Bruto.
SEGUNDO PLEBEU
Vou com Cássio; e depois compararemos
As falas, separadamente ouvidas.
Sai Cássio, com alguns dos Plebeus.
TERCEIRO PLEBEU
Silêncio! O nobre Bruto está no púlpito.
BRUTO
Escutem com paciência até o fim. Romanos, conterrâneos, camaradas, ouçam a minha causa e façam silêncio para que possam ouvir. Acreditem-me por minha honra, e reconheçam minha honra para que possam acreditar. Avaliem-me com sua sabedoria e despertem seu juízo para que possam corretamente julgar. Se houver alguém nesta assembleia, algum zeloso amigo de César, a ele eu assevero que a amizade de Bruto por César não era menor que a sua. Se esse amigo então perguntar por que Bruto se ergueu contra César, esta é a minha resposta: não foi por amar menos a César, mas por amar Roma ainda mais. Preferiam ter César vivo e morrerem como escravos, ou verem César morto e viverem em liberdade? Porque César foi meu amigo, eu o choro; porque ele foi venturoso, eu me alegro; porque ele foi valente, eu o respeito; mas porque ele foi ambicioso, eu o matei. Há lágrimas por sua amizade; alegria por sua fortuna; respeito por sua valentia; e morte por sua ambição. Quem de vocês é tão vil que deseje ser um escravo? Se houver alguém, que fale: a ele eu ofendi. Quem de vocês é tão abrutalhado que não deseje ser um romano? Se houver alguém, que fale: a ele eu ofendi. Quem de vocês é tão abjeto que não ame o seu país? Se houver alguém, que fale: a ele eu ofendi. Faço uma pausa e aguardo a réplica.
TODOS
Ninguém, Bruto, ninguém.
BRUTO
Então, a ninguém eu ofendi. Não fiz a César mais do que vocês fariam a Bruto. O caso de César está registrado no Capitólio; não foram diminuídas as glórias que o honram, tampouco exagerados os delitos que lhe acarretaram a morte.
Entram Marco Antônio e outros, com o corpo de César.
Aí vem seu corpo, chorado por Antônio, que, embora não tenha participado em sua execução, receberá o benefício de sua morte, uma posição na república, e quem de vocês não receberá a mesma coisa? Com isso, eu me retiro, pois, assim como golpeei meu melhor amigo pelo bem de Roma, guardo a mesma adaga para mim mesmo, quando a pátria decidir que deseja minha morte.
TODOS
Vive, Bruto, vive!
PRIMEIRO PLEBEU
Carreguem-no em triunfo até sua casa.
SEGUNDO PLEBEU
Deem-lhe uma estátua junto aos seus antepassados.
TERCEIRO PLEBEU
Que ele seja César!
QUARTO PLEBEU
O melhor de César
Será coroado em Bruto.
PRIMEIRO PLEBEU
Vamos levá-lo em casa, em grande aclamação.
BRUTO
Conterrâneos…
SEGUNDO PLEBEU
Silêncio! Quietos! Bruto fala!
PRIMEIRO PLEBEU
Silêncio! Quietos!
BRUTO
Deixem que eu parta a sós, meus caros conterrâneos,
E, se amam Bruto, permaneçam com
Antônio.
Sejam cordiais ao grande morto e ouçam,
cordatos,
O que Antônio dirá sobre as glórias de César
Com nossa permissão, agora, em seu discurso.
Suplico que ninguém se afaste desta praça
Além de mim, até que Antônio haja falado.
Sai.
PRIMEIRO PLEBEU
Silêncio! Agora ouçam todos Marco Antônio.
TERCEIRO PLEBEU
Deixemos que ele ocupe o assento de orador.
Vamos ouvi-lo. – Nobre Antônio, sobe ao púlpito.
ANTÔNIO
Graças a Bruto, estou em débito convosco.
Sobe.
QUARTO PLEBEU
O que ele está falando sobre Bruto?
TERCEIRO PLEBEU
Disse: Graças a Bruto,
está em débito conosco.
QUARTO PLEBEU
É mesmo bom que não nos fale mal de Bruto!
PRIMEIRO PLEBEU
Era um tirano, aquele César.
TERCEIRO PLEBEU
Nem me diga.
Sorte nossa que Roma esteja livre dele.
SEGUNDO PLEBEU
Silêncio! Ouçamos o que Antônio vai dizer.
ANTÔNIO
Caros romanos…
TODOS
Quietos! Atenção!
ANTÔNIO
Irmãos, romanos, conterrâneos,
me ouçam!
Eu venho enterrar César, não louvá-lo.
O mal que os homens fazem vive sempre,
Mas o bem é enterrado com seus
ossos.
Que assim seja com César. O bom Bruto
Disse que César era ambicioso.
Se for verdade, eis um grave crime
E César foi punido gravemente.
Com permissão de Bruto e os outros todos
— Porque Bruto é um homem muito honrado;
E os outros todos, homens muito honrados —
Venho falar no funeral de César.
Foi meu amigo, justo, bom, leal;
Mas Bruto diz que ele era ambicioso
E Bruto é um homem muito honrado.
Vários cativos César trouxe a Roma,
Cujo resgate encheu os cofres públicos:
Isso em César parece ambicioso?
Vendo os pobres chorar, também chorava;
A ambição deve ter metal mais duro:
Mas Bruto diz que ele era ambicioso,
E Bruto é um homem muito honrado.
Vocês viram, nas Festas Lupercais,
Que ofereci três vezes a coroa;
Três vezes recusou. Isso é ambição?
Mas Bruto diz que ele era ambicioso
E, claro, ele é um homem muito honrado.
Não venho contrariar o que ele disse,
Só vim dizer o que eu conheço e sei.
Todos vocês, um dia, amaram César,
E não foi sem razão; então me digam:
O que os impede de chorar por ele?
Ah, Juízo! Fugiste às bestas-feras
E os homens estão loucos!
Um momento;
Minha alma entrou neste caixão, com César;
Devo calar, até que volte a mim.
PRIMEIRO PLEBEU
Há bom senso no que ele diz, eu acho.
SEGUNDO PLEBEU
Se pensarmos no assunto com cuidado,
César sofreu uma injustiça enorme.
TERCEIRO PLEBEU
E que injustiça ele sofreu, amigos!
Eu temo alguém pior no seu lugar.
QUARTO PLEBEU
Recusou a coroa,
ouviram bem?
Quer dizer que não era ambicioso.
PRIMEIRO PLEBEU
Se isso é verdade, alguém vai pagar caro.
SEGUNDO PLEBEU
Pobre Antônio! Seus olhos estão rubros
Como fogo, de tanto que chorou.
TERCEIRO PLEBEU
Marco Antônio é o mais nobre dos
romanos.
QUARTO PLEBEU
Atenção; ele vai falar de novo.
ANTÔNIO
A palavra de César, até ontem,
Valia mais que o mundo. E, agora, ei-lo:
Nem um mendigo faz-lhe reverência.
Senhores! Se eu quisesse comover
Seus corações à fúria e à revolta,
Seria injusto a Bruto e injusto a Cássio,
Que são homens honrados
— todos sabem.
Não vou injustiçá-los; não. Prefiro
Injustiçar o morto, e a mim mesmo
E a vocês todos. Isso é preferível
A ofender esses homens tão honrados.
Mas vejam, tenho aqui um pergaminho
Com o selo de César; encontrei-o
Em seu quarto, e contém seu testamento.
Se os plebeus escutassem o legado
— Mas, me perdoem, não pretendo lê-lo —
Beijariam as chagas do cadáver,
Molhariam no santo sangue os lenços
E um fio de seu cabelo implorariam,
Guardando-o por relíquia da memória
E ao morrer, nos seus próprios testamentos,
Como rico legado o deixariam
A toda a descendência.
QUARTO PLEBEU
Nós queremos ouvi-lo. Lê, Antônio!
TODOS
O testamento! Sim, o testamento!
Nós queremos ouvir o testamento!
ANTÔNIO
Meus queridos amigos, paciência;
Não posso ler. Não é apropriado
Que saibam como César os amava.
Vocês não são madeira, não são pedras,
São homens simplesmente e sendo humanos,
Ao escutar a doação de César,
Ficarão incendiados de loucura.
É melhor que jamais fiquem sabendo
Que os herdeiros de César são vocês,
Pois o que ocorrerá, se descobrirem?
QUARTO PLEBEU
Nós queremos ouvir, Antônio! Lê!
A doação, a doação de César!
ANTÔNIO
Não podem se acalmar? Não podem ser pacientes?
Falei demais ao lhes contar o que contei.
Eu temo fazer mal aos homens tão honrados
Cujos punhais golpearam César; temo muito.
QUARTO PLEBEU
Homens honrados, nada! Traidores!
TODOS
A doação! O testamento!
SEGUNDO PLEBEU
São vilões e assassinos, todos eles! O
testamento, lê o testamento!
ANTÔNIO
Vão me obrigar a ler o testamento?
Se é assim, se aproximem do cadáver,
Formem um círculo ao redor de César.
E hei de mostrar o autor do testamento.
Posso descer? Com sua permissão?
TODOS
Vem.
SEGUNDO PLEBEU
Desce.
TERCEIRO PLEBEU
Tens nossa permissão.
Antônio desce do púlpito.
QUARTO PLEBEU
Um círculo! Fiquem ao redor.
PRIMEIRO PLEBEU
Fiquem longe do esquife, fiquem longe do corpo!
SEGUNDO PLEBEU
Deem espaço a Antônio, ao muito nobre Antônio!
ANTÔNIO
Não, não me apertem tanto, para trás.
TODOS
Recuem! Espaço! Abram espaço!
ANTÔNIO
Amigos, se têm lágrimas guardadas,
Fiquem agora prontos pra vertê-las.
Todos conhecem este manto. Eu lembro
De quando Júlio César o envergou:
Na tenda, ao fim da tarde, no verão,
No mesmo dia em que venceu os Nérvios.
Vejam: aqui o punhal de Cássio
entrou;
Que estrago fez o malicioso Casca;
Aqui golpeou o bem-amado
Bruto
E, ao retirar o aço amaldiçoado,
Eis que o sangue de César veio atrás,
Como a desabalar pelos portões,
Para saber se é Bruto quem bateu
Com golpe tão cruel, desnaturado;
Pois Bruto, como todos vocês sabem,
Era o anjo de César. Julgai, deuses,
Quão fortemente César o estimava!
Foi este o golpe mais cruel de todos;
Pois quando César viu Bruto atacá-lo,
A ingratidão, mais forte do que as armas
Brandidas por traidores, derrotou-o;
E o seu potente coração rompeu-se;
E, escondendo o seu rosto neste manto,
Aos pés do monumento de Pompeu,
Onde o sangue escorria o tempo todo,
Tombou o grande César. Ó romanos,
Que imensurável queda foi aquela!
Pois eu próprio caí, vocês caíram,
Caímos todos nós nesse momento,
Sob o florear da traição sangrenta.
Vocês agora choram e eu percebo
Que a pena acutilou a sua alma.
Bondosa chuva tomba dos seus olhos.
Espíritos gentis, por que pranteiam
Vendo somente a veste apunhalada?
Contemplem: eis aqui o próprio César,
Mutilado por mãos de traidores.
Antônio retira o manto.
PRIMEIRO PLEBEU
Ó cena lastimosa!
SEGUNDO PLEBEU
Ó nobre César!
TERCEIRO PLEBEU
Ó dia desastroso!
QUARTO PLEBEU
Ó vilões! Traidores!
PRIMEIRO PLEBEU
Ó que visão funesta!
SEGUNDO PLEBEU
Nós queremos vingança!
TODOS
Vingança! Vamos lá! Procurem! Queimem!
Fogo!
Morte! Matança! Que nenhum traidor escape vivo!
ANTÔNIO
Um momento, conterrâneos.
PRIMEIRO PLEBEU
Atenção! Ouçam o nobre Antônio!
SEGUNDO PLEBEU
Nós o ouviremos, nós o seguiremos, nós
morreremos por ele!
ANTÔNIO
Meus bons amigos, meus gentis amigos,
Não deixem que eu desperte em suas almas
Tão súbita maré de insurreição.
Os autores deste ato são honrados.
Infelizmente, desconheço as causas
E os agravos privados que os moveram.
Porém, eles são sábios, são honrados,
E hão de explicar, decerto, seus motivos.
Não vim roubar seus corações, amigos;
Bruto é um grande orador, mas eu não sou;
Como sabem, sou só um homem
simples,
Sempre franco e leal ao meu amigo,
E disso eles sabiam muito bem
Ao permitirem que eu falasse aqui.
Pois eu não tenho engenho nem estilo
Nem gravidade nem vocabulário
Nem a postura ou o poder da fala
Que faz ferver o coração dos homens.
Eu só falo o que penso, sem rodeios.
Eu digo o que vocês todos já sabem,
Mostro as feridas do bondoso César,
Pobres bocas, ó pobres bocas mudas,
E eu as deixo falar em meu lugar.
Porém, se eu fosse Bruto, e Bruto, Antônio,
Esse outro Antônio havia de incendiar
Seus corações, e em cada chaga aberta
Botaria uma língua cuja voz
Poderia mover até as pedras
De Roma a se insurgir e rebelar.
TODOS
Revolta!
PRIMEIRO PLEBEU
Queimem a mansão de Bruto!
TERCEIRO PLEBEU
Vamos lá! Atrás dos conjurados!
ANTÔNIO
Escutem, conterrâneos, mais um pouco.
TODOS
Silêncio! O nobre Antônio vai falar!
ANTÔNIO
Ora, amigos, vocês nem mesmo sabem
Aquilo que estão prestes a fazer.
Por que César merece tanto amor?
Vocês não sabem! Vou contar então.
Já iam esquecendo o testamento.
TODOS
É mesmo! A doação! Vamos ficar
e ouvir!
ANTÔNIO
Eis o selo de César e o legado.
A todo cidadão ele confere,
A cada um, setenta e cinco dracmas.
SEGUNDO PLEBEU
Nobre César! Sua morte vingaremos!
TERCEIRO PLEBEU
Ó régio César!
ANTÔNIO
Escutem com paciência.
TODOS
Silêncio! Quietos!
ANTÔNIO
Também lhes doa todos seus passeios,
As pérgulas privadas e os pomares
Recém-plantados, para cá do Tíber.
Deixou tudo a vocês e à sua prole
Por todo o sempre: públicos prazeres,
Lugares de passeio a todo o povo.
Eis um César. E quando haverá outro?
PRIMEIRO PLEBEU
Jamais! Jamais! Avante, avante, vamos!
Vamos cremá-lo no lugar sagrado
E com as tochas vamos incendiar
As casas dos malditos traidores!
Peguem o corpo.
SEGUNDO PLEBEU
Tragam o fogo!
TERCEIRO PLEBEU
Arranquem os bancos!
QUARTO PLEBEU
Arranquem as janelas, os caixilhos, tudo!
Saem os Plebeus com o corpo.
ANTÔNIO
E que o fogo se espalhe. Ardil, estás lançado,
Toma o caminho que desejes.
Entra o Servo.
Sim, rapaz?
SERVO
Senhor, Otávio acaba de chegar a Roma.
ANTÔNIO
Onde ele está?
SERVO
Ele e Lépido estão na morada de César.
ANTÔNIO
E ao seu encontro vou agora, sem tardar.
Chegou na hora certa. A Fortuna está alegre:
Neste estado de humor, dará o que pedirmos.
SERVO
Ouvi o meu senhor dizer que Bruto e Cássio
Pelos portões fugiram num galope louco.
ANTÔNIO
Decerto lhes chegou notícia sobre o povo
E o efeito que causei. Leva-me agora a Otávio.
Saem.
*
(Enter Brutus and Cassius, with a throng
of Citizens.)
CITIZENS
We will be satisfied; let us be satisfied.
BRUTUS
Then follow me, and give me audience, friends.—
Cassius, go you into the other street
And part the numbers.—
Those that will hear me speak, let ‘em stay here;
Those that will follow Cassius, go with him;
And public reasons shall be rendered
Of Caesar’s death.
FIRST CITIZEN
I will hear Brutus speak.
SECOND CITIZEN
I will hear Cassius; and compare their reasons,
When severally we hear them rendered.
(Exit Cassius, with some of the Citizens.)
THIRD CITIZEN
The noble Brutus is ascended: silence!
BRUTUS
Be patient till the last.
Romans, countrymen, and lovers! Hear me for my cause; and be silent, that you may hear: believe me for mine honour, and have respect to mine honor, that you may believe: censure me in your wisdom; and awake your senses, that you may the better judge. If there be any in this assembly, any dear friend of Caesar’s, to him I say that Brutus’ love to Caesar was no less than his. If then that friend demand why Brutus rose against Caesar, this is my answer,—Not that I loved Caesar less, but that I loved Rome more. Had you rather Caesar were living, and die all slaves, than that Caesar were dead, to live all freemen? As Caesar loved me, I weep for him; as he was fortunate, I rejoice at it; as he was valiant, I honour him; but, as he was ambitious, I slew him. There is tears for his love; joy for his fortune; honour for his valour; and death for his ambition. Who is here so base that would be a bondman? If any, speak; for him have I offended. Who is here so rude that would not be a Roman? If any, speak; for him have I offended. Who is
here so vile that will not love
his country? If any, speak;
for him have I offended.
I pause for
a reply.
CITIZENS
None, Brutus, none.
BRUTUS
Then none have I offended. I have done no more to Caesar than you shall do to Brutus. The question of his death is enroll’d in the Capitol, his glory not extenuated, wherein he was worthy, nor his offenses enforced, for which he suffered death.
(Enter Antony and others, with Caesar’s
body.)
Here comes his body, mourned by Mark Antony, who, though he had no hand in his death, shall receive the benefit of his dying, a place in the commonwealth; as which of you shall not? With this I depart— that, as I slew my best lover for the good of Rome, I have the same dagger for myself, when it shall
please my country to need
my death.
CITIZENS
Live, Brutus! live, live!
FIRST CITIZEN
Bring him with triumph home unto his house.
SECOND CITIZEN
Give him a statue with his ancestors.
THIRD CITIZEN
Let him be Caesar.
FOURTH CITIZEN
Caesar’s better parts
Shall be crown’d in Brutus.
FIRST CITIZEN
We’ll bring him to his house with shouts and clamours.
BRUTUS
My countrymen,—
SECOND CITIZEN
Peace! silence! Brutus speaks.
FIRST CITIZEN
Peace, ho!
BRUTUS
Good countrymen, let me depart alone,
And, for my sake, stay here with
Antony:
Do grace to Caesar’s corpse, and grace his
speech
Tending to Caesar’s glory; which Mark Antony,
By our permission, is allow’d to make.
I do entreat you, not a man depart,
Save I alone, till Antony have spoke.
(Exit.)
FIRST CITIZEN
Stay, ho! and let us hear Mark Antony.
THIRD CITIZEN
Let him go up into the public chair;
We’ll hear him.—Noble Antony, go up.
ANTONY
For Brutus’ sake, I am beholding to you.
(Goes up.)
FOURTH CITIZEN
What does he say of Brutus?
THIRD CITIZEN
He says, for Brutus’ sake,
He finds himself beholding to us all.
FOURTH CITIZEN
‘Twere best he speak no harm of Brutus here.
FIRST CITIZEN
This Caesar was a tyrant.
THIRD CITIZEN
Nay, that’s certain:
We are blest that Rome is rid of him.
SECOND CITIZEN
Peace! let us hear what Antony can say.
ANTONY
You gentle Romans,—
CITIZENS
Peace, ho! let us hear him.
ANTONY
Friends, Romans, countrymen, lend me your
ears;
I come to bury Caesar, not to praise him.
The evil that men do lives after them;
The good is oft interred with their
bones:
So let it be with Caesar. The noble Brutus
Hath told you Caesar was ambitious:
If it were so, it was a grievous fault;
And grievously hath Caesar answer’d it.
Here, under leave of Brutus and the rest,—
For Brutus is an honourable man;
So are they all, all honorable men,—
Come I to speak in Caesar’s funeral.
He was my friend, faithful and just to me:
But Brutus says he was ambitious;
And Brutus is an honourable man.
He hath brought many captives home to Rome,
Whose ransoms did the general coffers fill:
Did this in Caesar seem ambitious?
When that the poor have cried, Caesar hath wept:
Ambition should be made of sterner stuff:
Yet Brutus says he was ambitious;
And Brutus is an honourable man.
You all did see that on the Lupercal
I thrice presented him a kingly crown,
Which he did thrice refuse: was this ambition?
Yet Brutus says he was ambitious;
And, sure, he is an honourable man.
I speak not to disprove what Brutus spoke,
But here I am to speak what I do know.
You all did love him once, not without cause:
What cause withholds you, then, to mourn for him?
O judgment, thou art fled to brutish beasts,
And men have lost their reason!—Bear
with me;
My heart is in the coffin there with Caesar,
And I must pause till it come
back to me.
FIRST CITIZEN
Methinks there is much reason in his sayings.
SECOND CITIZEN
If thou consider rightly of the matter,
Caesar has had great wrong.
THIRD CITIZEN
Has he not, masters?
I fear there will a worse come in his place.
FOURTH CITIZEN
Mark’d ye his words? He would not take
the crown;
Therefore ‘tis certain he was not ambitious.
FIRST CITIZEN
If it be found so, some will dear abide it.
SECOND CITIZEN
Poor soul! his eyes are red as fire with
weeping.
THIRD CITIZEN
There’s not a nobler man in Rome
than Antony.
FOURTH CITIZEN
Now mark him; he begins again to speak.
ANTONY
But yesterday the word of Caesar might
Have stood against the world: now lies he there,
And none so poor to do him reverence.
O masters, if I were disposed to stir
Your hearts and minds to mutiny and rage,
I should do Brutus wrong and Cassius wrong,
Who, you all know, are honourable
men:
I will not do them wrong; I rather choose
To wrong the dead, to wrong myself, and you,
Than I will wrong such
honourable men.
But here’s a parchment with the seal of Caesar,—
I found it in his closet,—’tis his will:
Let but the commons hear this testament,—
Which, pardon me, I do not mean to read,—
And they would go and kiss dead
Caesar’s wounds,
And dip their napkins in his sacred blood;
Yea, beg a hair of him for
memory,
And, dying, mention it within their wills,
Bequeathing it as a rich legacy
Unto their issue.
FOURTH CITIZEN
We’ll hear the will: read it, Mark Antony.
CITIZENS
The will, the will! We will hear
Caesar’s will.
ANTONY
Have patience, gentle friends, I must not read it;
It is not meet you know how Caesar
loved you.
You are not wood, you are not stones, but
men;
And, being men, hearing the will of Caesar,
It will inflame you, it will make you mad.
‘Tis good you know not that you are his
heirs;
For if you should, O, what would come of it!
FOURTH CITIZEN
Read the will! we’ll hear it, Antony;
You shall read us the will,—Caesar’s will!
ANTONY
Will you be patient? will you stay awhile?
I have o’ershot myself to tell you of it:
I fear I wrong the honorable men
Whose daggers have stabb’d Caesar; I do fear it.
FOURTH CITIZEN
They were traitors: honourable men!
CITIZENS
The will! The testament!
SECOND CITIZEN
They were villains, murderers. The will!
read the will!
ANTONY
You will compel me, then, to read the will?
Then make a ring about the corpse
of Caesar,
And let me show you him that made the will.
Shall I descend? and will you give me leave?
CITIZENS
Come down.
SECOND CITIZEN
Descend.
THIRD CITIZEN
You shall have leave.
(He comes down.)
FOURTH CITIZEN
A ring! stand round.
FIRST CITIZEN
Stand from the hearse, stand from the body.
SECOND CITIZEN
Room for Antony!—most noble Antony!
ANTONY
Nay, press not so upon me; stand far’ off.
CITIZENS
Stand back; room! bear back.
ANTONY
If you have tears, prepare to shed
them now.
You all do know this mantle: I remember
The first time ever Caesar put it on;
‘Twas on a Summer’s evening, in his tent,
That day he overcame the Nervii.
Look, in this place ran Cassius’ dagger
through:
See what a rent the envious Casca made:
Through this the well-beloved Brutus
stabb’d;
And as he pluck’d his cursed steel away,
Mark how the blood of Caesar follow’d it,—
As rushing out of doors, to be resolved
If Brutus so unkindly knock’d, or no;
For Brutus, as you know, was Caesar’s
angel:
Judge, O you gods,
how dearly Caesar loved him!
This was the most unkindest cut of all;
For when the noble Caesar saw him stab,
Ingratitude, more strong than traitors’ arms,
Quite vanquish’d him: then burst his mighty
heart;
And, in his mantle muffling up his face,
Even at the base of Pompey’s statua,
Which all the while ran blood,
great Caesar fell.
O, what a fall was there, my countrymen!
Then I, and you, and all of us fell down,
Whilst bloody treason flourish’d over us.
O, now you weep; and, I perceive, you
feel
The dint of pity: these are gracious drops.
Kind souls, what, weep you when you but behold
Our Caesar’s
vesture wounded? Look you here,
Here is himself, marr’d, as you see, with
traitors.
Lifts up CAESAR’s mantle
FIRST CITIZEN
O piteous spectacle!
SECOND CITIZEN
O noble Caesar!
THIRD CITIZEN
O woeful day!
FOURTH CITIZEN
O traitors, villains!
FIRST CITIZEN
O most bloody sight!
SECOND CITIZEN
We will be revenged.
CITIZENS
Revenge! About! Seek! Burn! Fire!
Kill! Slay!
Let not a traitor live!
ANTONY
Stay, countrymen.
FIRST CITIZEN
Peace there! hear the noble Antony.
SECOND CITIZEN
We’ll hear him, we’ll follow him, we’ll
die with him.
ANTONY
Good friends, sweet friends, let me not
stir you up
To such a sudden flood of mutiny.
They that have done this deed are honourable:
What private griefs they have, alas, I know not,
That made them do it; they’re wise
and honourable,
And will, no doubt, with reasons answer you.
I come not, friends, to steal away your hearts:
I am no orator, as Brutus is;
But, as you know me all, a plain
blunt man,
That love my friend; and that they know full well
That gave me public leave to speak of him:
For I have neither wit, nor words,
nor worth,
Action, nor utterance, nor the power of speech,
To stir men’s blood: I only speak
right on;
I tell you that which you yourselves do know;
Show you sweet Caesar’s wounds, poor
dumb mouths,
And bid them speak for me: but were
I Brutus,
And Brutus Antony, there were an Antony
Would ruffle up your spirits, and put
a tongue
In every wound of Caesar,
that should move
The stones of Rome to rise and mutiny.
CITIZENS
We’ll mutiny.
FIRST CITIZEN
We’ll burn the house of Brutus.
THIRD CITIZEN
Away, then! come, seek the conspirators.
ANTONY
Yet hear me, countrymen; yet hear me speak.
CITIZENS
Peace, ho! hear Antony; most noble Antony!
ANTONY
Why, friends, you go to do you know not what.
Wherein hath Caesar thus deserved your loves?
Alas, you know not; I must tell you then:
You have forgot the will I told
you of.
CITIZENS
Most true; the will!—let’s stay, and hear
the will.
ANTONY
Here is the will, and under Caesar’s seal.
To every Roman citizen he gives,
To every several man, seventy-five drachmas.
SECOND CITIZEN
Most noble Caesar!—we’ll revenge his death.
THIRD CITIZEN
O, royal Caesar!
ANTONY
Hear me with patience.
CITIZENS
Peace, ho!
ANTONY
Moreover, he hath left you all his walks,
His private arbors, and new-planted orchards,
On this side Tiber: he hath left them you,
And to your heirs forever; common pleasures,
To walk abroad, and recreate yourselves.
Here was a Caesar!
when comes such another?
FIRST CITIZEN
Never, never.—Come, away, away!
We’ll burn his body in the holy place,
And with the brands fire
the traitors’ houses.
Take up the body.
SECOND CITIZEN
Go, fetch fire.
THIRD CITIZEN
Pluck down benches.
FOURTH CITIZEN
Pluck down forms, windows, any thing.
(Exeunt Citizens, with the body.)
ANTONY
Now let it work.—Mischief, thou art afoot,
Take thou what course thou wilt!—
(Enter a Servant.)
How now, fellow?
SERVANT
Sir, Octavius is already come to Rome.
ANTONY
Where is he?
SERVANT
He and Lepidus are at Caesar’s house.
ANTONY
And thither will I straight to visit him:
He comes upon a wish. Fortune is merry,
And in this mood will give us any thing.
SERVANT
I heard ‘em say Brutus and Cassius
Are rid like madmen through the gates of Rome.
ANTONY
Belike they had some notice of the people,
How I had moved them. Bring me to Octavius.
(Exeunt.)
*